Oscar Niemeyer - Quem sou eu para
condena-lo ao inferno
Este homem, ateu de convicção e cristão de vida
diária,
vai ou não vai estar ao lado de Deus?
Lendo Mateus
25,31-46 podemos chegar a alguma conclusão:
Texto 01 - Luís Alonso Schökel
A ação do homem e das sociedades em suas
relações mútuas têm uma dimensão transcendente que Deus conhece e sanciona.
Essa ideia ou mistério se dramatiza na linguagem de um grande julgamento
público e universal. Como antecedentes literários podem-se recordar: o rito de
Js 8,32-35 completado com Dt 27,12-28,14; a nota escatológica de Is 24,21-22;
os destinos opostos de ls 65,13-15; Dn 12,2 o indica ou implica; Sb 4,20-5,16 o
descreve a seu modo.
Em primeiro lugar, o texto propõe um
problema de dupla identificação:
a) fala de "todas as nações"
pagãs ou de todas sem distinção?
b) os "irmãos menores" de
Jesus são os cristãos ou todos os necessitados?
Uma interpretação minimalista diria que
os pagãos são julgados de acordo como tratarem os cristãos. Resposta:
a) segundo a tradição bíblica, a
expressão designa os pagãos. O texto o comprova, pois os cristãos não podem
alegar ignorância, os pagãos sim. Mas antes disse que "a boa notícia do
reino será proclamada a todas as nações" (24,14).
b) Embora Jesus tenha limitado sua
missão "às ovelhas desgarradas da Casa de Israel" (15,24), compadeceu-se
também dos pagãos necessitados e proclama uma mensagem universal. Pois bem, se
num momento a parábola teve um alcance limitado, em seu estado atual parece
exigir um alcance universal: os que creram em Jesus, pelo cumprimento de seu
mandato serão julgados; os que não o conheceram, serão julgados pela fidelidade
a seus valores.
O juiz é Jesus. O "filho do
rei", na ocasião do casamento (22,2), é no julgamento o rei (cf. SI 72,1)
que chega acompanhado da sua corte e toma assento no seu tribunal (cf. Dn
7,9-10; Dt 33,2; Zc 14,5). Perante ele comparecem "todas as nações".
Inspirados em J1º 4,11-12, alguns quiseram tomar a parábola como descrição
realista e até localizaram a cena no "vale de Josafá".
O julgamento será de separação
(aphorizo): verbo de grande tradição no culto e na legislação (ver
especialmente Lv 20,25s; Is 56,3); seu complemento são os bons, que são "separados"
dos maus. Compará-Ios com ovelhas e cabras pode ser sugestão de Ez 34,17, que
distingue entre ovelhas e bodes; ao passo que a ceia pascal admite sem
distinção "cordeiro e cabrito" (Ex 12,5). O valor da direita e da
esquerda é transcultural (cf. Dt 27,12-13), segundo a posição geográfica
relativa).
O critério de separação são as obras de
misericórdia, que se podem ilustrar com textos do AT e do NT (p. ex. Is 58,7;
Pr 19,17; Mt 5,7; 9,13; 12,7; 23,23). Servem para especificar o preceito
capital do amor ao próximo. Jesus fez-se próximo do necessitado e irmão dos
pequenos.
Como em Dt 27-28, a sentença é pronunciada
em forma de bênção e maldição: benditos (SI 115,15; Is 65,23), malditos (Jr
17,5; SI 37,22). A sentença será "herdar o reino" (1ºCor 6,9; 15,50;
GI 5,21) ou ser lançados no. "fogo eterno" (Is 66,24; Dn 7,11; Ap
20,10).
A cena nos faz compreender que muitos,
sem conhecer a pessoa de Jesus, se ajustam aos valores dele, na esfera do amor
ao próximo. E isso decide o destino deles.
Texto 02 - Isidoro Mazzarolo ( http://www.mazzarolo.pro.br/ )
O julgamento não é um ato arbitrário ou
um erro acidental da pessoa. Fazer o bem ou deixar de fazê-lo é
uma questão de comportamento e de conduta de uma vida inteira. Esta metáfora em
seis aspectos não quer apontar para um erro acidental ou esquecimento, do qual
a pessoa pode redimir-se facilmente, mas indica a conduta de toda uma vida, uma
opção pelo bem ou pelo mal. Aqueles que não acolhem escolhem odiar, oprimir e
explorar, e não fazem uma única vez, fazem todas as vezes e quantas forem
necessárias. Aqueles que exercem a
misericórdia e a justiça assumem este comportamento e todos os riscos inerentes
como críticas,
perseguições, prejuízos e até a morte (5,11-12).
O julgamento é consequência da opção
fundamental de uma pessoa ou da direção que alguém dá a todos os seus atos. Uma
pessoa má pode fazer algum ato bom por interesse, por conveniência ou para
tirar proveito depois. Uma pessoa boa pode cometer um ato errado, mas se
arrepende e sua conduta continua boa. O que define estar ao lado direito ou
esquerdo do Filho do Homem e receber um convite de ingresso "vem, bendito" ou então ser colocado
do lado esquerdo e ouvir "vai,
maldito" não depende de algum erro ou acerto, mas de uma opção existencial
para o bem, pelo próximo, pela justiça ou pelo mal, pela impiedade e pelo
pecado. Os justos serão convidados ao paraíso
eterno (25,46) e os outros, para o lugar que escolheram: o castigo eterno,
pois, com sua vida e obras, negaram a caridade, rejeitaram a justiça e não
acreditaram no amor.
A partir dessa ultima frase eu lanço uma
pergunta: para ser cristão é necessário fazer parte de alguma igreja cristã ou
até mesmo acreditar na existência de Deus ?
( Ricardo Naiff )
Bibliografias:
-- Luís Alonso Schökel - Bíblia do Peregrino. Ed. Paulus,
São Paulo – 2006.
-- Isidoro Mazzarolo – Evangelho de São Mateus. Mazzarolo
editor, Rio de Janeiro – 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário